segunda-feira, 6 de junho de 2011

"Longe de uma bolha"

“Estamos muito longe de uma bolha”
Ricardo Amorim, presidente da Ricam Consultoria

Economista e estrategista de investimentos, Ricardo Amorim estará na próxima quinta-feira, em Porto Alegre para a palestra “Os desafios do mercado imobiliário no novo Brasil”. Atuando no mercado financeiro desde 1992 em Nova York, Paris e São Paulo, Amorim, um dos apresentadores do programa de TV Manhattan Connection, acredita que a crise europeia ainda vai se alastrar porque três países precisarão de novo socorro financeiro. Como consequência, uma nova onda de retração varrerá as bolsas no mundo.

No setor imobiliário – que vive expansão nunca vista no Brasil –, o economista, presidente da Ricam Consultoria, entende que há muito espaço para crescer. Como comparação, lembra que o crédito bancário para o setor imobiliário no Brasil equivale a 4% do PIB. Nos EUA, em 2007, antes de a crise estourar, chegava a 79% do PIB. A palestra de Amorim em evento promovido pela Lopes Sul, empresa de venda e consultoria de imóveis, será ao meio-dia do dia 9, no hotel Sheraton.

Zero Hora – O preço dos imóveis está muito alto hoje no Brasil?

Ricardo Amorim – A gente precisa olhar isso sobre vários aspectos. Inegavelmente, houve uma alta significativa de preços nos últimos anos. O que a gente precisa entender é que o preço dos imóveis era muito baixo no Brasil na comparação com o resto do mundo. E os preços subiram basicamente porque começou a haver um processo de acesso ao crédito. Quanto mais gente tem acesso a isso, mais gente pode comprar imóvel. Quando você aumenta a procura por algum produto, o preço sobe. Isso foi o que aconteceu no caso dos imóveis.

ZH – Ainda há fôlego para garantir crédito para o setor?

Amorim – A poupança é uma das fontes de financiamento do crédito imobiliário, mas não é única. Até porque o que a gente está vendo no Brasil é um processo no qual o setor financeiro passa a atuar de uma forma mais parecida como no resto do mundo. Eu quero dizer o seguinte: pelo histórico brasileiro de taxas dejuros muito altas e muita instabilidade, o setor financeiro brasileiro concentrou as operações em comprar títulos públicos. Quer dizer, financiava o governo e não financiava iniciativa privada. Quando a taxa de juros começou a cair, já de umadécada para cá, e ao mesmo tempo a economia brasileira passou gradualmente a ficar mais estável, o setor financeiro começou a fazer operações com o setor privado.

ZH – Para os bancos, o crédito imobiliário é rentável?

Amorim – A margem no crédito imobiliário é menor do que em alguns outros produtos dos bancos, mas conseguem algumas contrapartidas importantes. A primeira é que, como é uma linha de financiamento de prazo muito mais longo, mesmo com uma margem menor, a rentabilidade acaba sendo bastante compensatório. Segundo aspecto importante: o calote na carteira é baixo e, se houver, a garantia é o próprio imóvel, que tem uma depreciação muito baixa, tendo até valorização no início.

ZH – O risco de bolha existe no Brasil?

Amorim – Nós não temos bolha. Pode ser que haja a formação de uma bolha ao longo dos próximos anos, mas, hoje, não temos uma, apesar da alta recente dos preços. Como ainda há muito espaço tanto para aumentar a quantidade decrédito quanto para reduzir a taxa de juro, estamos muito longe de uma bolha imobiliária no país.

ZH – Para quem é investidor, vale a pena aplicar em imóveis atualmente?

Amorim – Uma coisa importante é sempre olhar cada investimento em particular, porque quando a gente generaliza há boas e más oportunidades. Como investimento, ainda haverá oportunidades ao longo dos próximos anos, seja na parte de fundos imobiliários, seja na parte dos próprios imóveis. E até das ações das empresas do setor de construção. Mas, neste momento, eu não recomendaria as ações. A razão é que eu tenho uma preocupação com uma piora grande da crise da Europa, e isso vai ter um impacto negativo nas bolsas em todo o mundo, mais ou menos como aconteceu no final de 2008.

ZH – A Europa vai continuar precisando de socorro financeiro, é isso?

Amorim – O que parece mais provável é que poderia vir um calote da Grécia. Mas ainda tem o seguinte: mais três países nos próximos 18 meses vão precisar dedinheiro do FMI e do fundo europeu. O primeiro é a Espanha. Sozinha, vai precisar de mais auxílio do que Grécia, Irlanda e Portugal somados, algo como 450 milhões de euros. Hoje não existe no FMI e no fundo europeu dinheiro suficiente para salvar a Espanha. Depois, a Bélgica vai precisar de 100 bilhões deeuros. O problema é quando chegar à Itália. Será necessário mais dinheiro do que os outros cinco somados: 850 bilhões de euros. E não tem como a Europa prover isso. Então, quem tem dinheiro hoje no mundo e que poderia montar um pacote desse tamanho são os países emergentes. Os emergentes hoje somam US$ 5 trilhões em reservas e se resolvessem capitalizar o FMI, colocar US$ 1,5 trilhão, haveria dinheiro suficiente para dar conta da crise e restaurar a confiança. Só que, pela própria discussão que está tendo hoje sobre a liderança do FMI, eu duvido que isso vá acontecer.

ZH – Com isso, a Bovespa vai continuar andando de lado?

Amorim – A nossa bolsa anda de lado faz um ano e meio, e o provável é que o próximo movimento seja para baixo e não para cima. É mais fácil a gente ver a bolsa indo para 40 mil ou 30 mil pontos do que para 80 mil pontos. Até pode ir a 80 mil, mas cairá depois.
 Zero Hora e Ricardo Amorim, presidente da Ricam Consultoria
 
05/06/2011 00:00